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Entrevista de Aleksandr Dugin ao L.A. Times | 19.09.2008
    18 ñåíòÿáðÿ 2008, 20:16
 

Entrevista de Aleksandr Dugin ao L.A. Times

Moscovo – escritor, activista politico e figura paterna do actual nacionalismo russo, Aleksandr Dugin é o fundador do Movimento Internacional Eurasiático da Rússia e um teórico popular entre a elite de topo da Rússia. O mesmo vislumbra um bloco estratégico que inclua as regiões da antiga União Soviética e do Médio Oriente de modo a rivalizar a aliança Atlântica – dominada pelos EUA. O The Times entrevistou Dugin esta semana no seu escritório de Moscovo, uma sala decorada com bandeiras com o slogan "Pax Russica". Seguem-se excertos da entrevista.
Qual a sua opinião acerca da actual posição da Rússia no mundo, e como deveria a Rússia agir no que diz respeito ao Ocidente? Antes de mais, advogo fortemente uma construção multipolar do mundo. Creio que a pretensão dos Estados Unidos em serem o único pólo do mundo… está completamente errada, é imoral e inaceitável por parte dos outros grandes centros de poder.
Apoiamos a criação de um espaço amplo, de alguns espaços amplos, em vez de um só foco de decisão, da decisão dos Estados Unidos. Acreditamos que a Rússia devia estar na vanguarda deste processo.
Consideramos que – não só a minha pessoa, mas também outros líderes políticos – consideramos que na Geórgia [o presidente Mikheil] Saakashvili cometeu não só um crime moral, mas também saboreou o que se encontra por trás das palavras russas, por trás dos protestos russos contra a dominação estadunidense. Quiseram testar até que ponto nos limitava-mos às palavras, e se a Rússia poderia agir directamente, com actos concretos.
Muitos no Ocidente acreditam que Moscovo provocou deliberadamente um confronto entre as repúblicas separatistas da Geórgia. Quem considera ser o responsável pela erupção do conflito armado?
Era demasiado arriscado ser nós a despoletá-lo. E penso, também, pelo que conheço do [primeiro-ministro Vladimir V.] Putin e do [presidente Dmitry] Medvedev, eles gostariam de evitar a qualquer custo uma confrontação directa com os Estados Unidos.
A intenção deles era a de conseguirem ganhar o tempo necessário para preparar a Rússia para atacar ou conseguir aguentar um possível ataque pela parte dos Estados Unidos, e precisaram de 10 anos. A reacção de Putin – de Putin e de Medvedev – foi a que foi apenas porque esta provocação por parte dos georgianos como sendo ofensiva, impossível e inaceitável. O que ocorreu foi uma reacção, não partiu de qualquer estratégia ofensiva planeada… [Putin e Medvedev] não estavam preparados para iniciarem, por vontade própria, uma situação tão difícil quanto esta nem uma guerra difícil que não aparenta ter fim. Nós, analistas políticos, compreendemos que poderíamos desencadear tal guerra, mas que não a conseguiríamos terminar.
Muitos no Ocidente acreditam que Moscovo provocou deliberadamente um confronto entre as repúblicas separatistas da Geórgia. Quem considera ser o responsável pela erupção do conflito armado?
Era demasiado arriscado ser nós a despoletá-lo. E penso, também, pelo que conheço do [primeiro-ministro Vladimir V.] Putin e do [presidente Dmitry] Medvedev, eles gostariam de evitar a qualquer custo uma confrontação directa com os Estados Unidos.
A intenção deles era a de conseguirem ganhar o tempo necessário para preparar a Rússia para atacar ou conseguir aguentar um possível ataque pela parte dos Estados Unidos, e precisaram de 10 anos. A reacção de Putin – de Putin e de Medvedev – foi a que foi apenas porque esta provocação por parte dos georgianos como sendo ofensiva, impossível e inaceitável. O que ocorreu foi uma reacção, não partiu de qualquer estratégia ofensiva planeada… [Putin e Medvedev] não estavam preparados para iniciarem, por vontade própria, uma situação tão difícil quanto esta nem uma guerra difícil que não aparenta ter fim. Nós, analistas políticos, compreendemos que poderíamos desencadear tal guerra, mas que não a conseguiríamos terminar.
Está longe de ter terminado. Trata-se apenas do início de uma verdadeira, e talvez até muito séria e muito perigosa para ambos os lados, confrontação entre nós e os estadunidenses.
Qual foi o propósito estratégico no reconhecimento da independência da Abecássia e da Ossétia do Sul? A Rússia, até agora, encontra-se completamente solitária neste reconhecimento.
Primeiro, com este passo a Rússia confirmou o seu desejo de estar disposta a ir até ao fim no que diz respeito a este conflito… Foi uma espécie de demonstração do nosso desejo, sério e profundo, de continuação.
Segundo, precisávamos, e agora já a temos, de uma explicação jurídica para o propósito da presença das nossas forças armadas no território georgiano. Agora isso está mais ou menos claro…
Acerca do reconhecimento, creio que a Rússia irá manter-se neste confronto, se a Rússia mantiver esta demonstração de uma decisão e de um poder firmes os restantes países irão, pouco a pouco, passo a passo, juntar-se à atitude perante a Ossétia do Sul e a Abecássia.
Não é uma norma que doravante reconheçamos todas as regiões separatistas. Claro que não. Iremos reconhecer aquelas regiões separatistas que se encontrarem geopoliticamente do nosso lado – do nosso lado ou dos nossos amigos – e opostas aos Estados Unidos.
Os Estados Unidos demonstraram-nos a sua dupla moral. Reconheceram a independência de um Kosovo pró-americano mas não reconhecem a independência das pró-russas Ossétia do Sul e Abecássia. Não reconhecem a integridade da Sérvia, mas reconhecem a integridade da Geórgia.
Como vislumbra a Rússia o desenvolvimento das relações amistosas entre os Estados Unidos e antigas repúblicas soviéticas, tais como a Ucrânia e a Geórgia?
Como sendo uma declaração de guerra. Como uma guerra aberta de proporções psicológicas, geopolíticas e económicas.
Putin era pró-Ocidente ao início. Era pró-americano. Era essa a razão do nosso criticismo para com a sua conduta. Por exemplo, depois do 11 de Setembro fomos contra o apoio que deu aos Estados Unidos e os seus passos de aproximação.
Mas, pouco a pouco, deparou-se com a completa negligência que isso significaria para os interesses russos. Com estes neoconservadores, com o Richard Perle ou o Dick Cheney, estávamos sempre a ser solícitos. "Assinamos aqui, já está."
Passo a passo, com a economia e o comércio dos recursos energéticos finalmente encontramos a força e a vontade de reagir a esta guerra. Porque esta guerra não foi desejada por nós. Foi um desafio. Foi-nos imposta pelos Estados Unidos.
Consideramos que em todo este espaço pós soviético – com excepção dos Estados das bálticos – nos encontramos a lidar com a civilização Eurásica. Não com a europeia, não com a ocidental. E tentar fazer com que estes espaços caiam fora do nosso controlo ou fora do nosso diálogo ou ainda fora das relações especiais que com eles mantemos, de raiz histórica – foi uma espécie de ataque, uma declaração de guerra. Não se trata, como os estadunidenses gostam de o colocar, de uma competição… Foi entendido não como uma competição mas como um acto de agressão, tal como os de Napoleão e de Hitler, e nada mais.
Quando a Rússia se deparou com um movimento separatista na Chechénia, reagiu com um ataque militar em grande escala bem como com um bombardeamento que transformou [a capital chechena] Grozny em cascalho. Mesmo assim Moscovo foi rápido em criticar Tbilisi [a capital da Geórgia] por lançar uma operação militar contra a sua república separatista. Não há aqui dois pesos, duas medidas?
Sim. Sim… Reagimos a uma situação de padrão duplo com outro padrão duplo. Concordo.
Se vai ser uma reacção de padrão duplo por cada acção de padrão duplo, onde é que vai acabar este círculo?
Os Estados Unidos comportam-se como se fossem o único pólo que pode definir o que é bom e o que é mau… Nunca acabará até que alguém diga, "alto"… Portanto temos que demonstrá-lo, parem ou irão arrepender-se. É possível que também nós nos arrependamos, mas vocês vão arrepender-se. Parem.
Foi proibido e visitar a Ucrânia. Acha que Ucrânia se vai juntar à OTAN e, em caso afirmativo, qual será a reacção da Rússia?
Creio que a maior parte da população ucraniana não quer fazer parte da OTAN. A maior parte da população, ainda mais depois do caso da Geórgia, deseja manter boas relações com a Rússia. Uma entrada na OTAN significaria a completa abolição de qualquer género de relação e uma dura, e real, confrontação.
Metade da população ucraniana considera-se russa – politicamente, geopoliticamente, culturalmente, etnicamente e por aí fora.
Não teríamos conseguido manter a Ucrânia sem que ocorresse uma divisão ou um compromisso entre ambas as partes.
O presidente [Viktor] Yushchenko deliberou expulsar-me da Ucrânia e proibir-me de entrar no seu Estado. Está no seu direito. É um Estado soberano… Mas ao fazê-lo creio que menosprezou o seu respeito pelos diferentes tipos de populações da Ucrânia. É que, sabe, as minhas ideias são muito populares na Ucrânia de Leste e na Crimeia e existem muitos, muitos milhares de pessoas que apoiam o movimento eurásico ali.
Se a Ucrânia entrar na OTAN, qual julga que será a reacção da Rússia?
Creio que a reacção russa seria o apoio a uma insurreição nas regiões do Leste e na Crimeia e não excluiria a entrada das nossas forças armadas nessas regiões, como no cenário da Ossétia.
Mas a diferença é que metade da população da Ucrânia é russa, é directamente russa, e esta metade da população sente-se oprimida pelos valores, pela linguagem e pelas questões geopolíticas ucranianas, completamente contrárias à sua vontade. Por isso não creio que, neste caso em particular, seria necessária uma intervenção directa das forças armadas russas. Penso que na véspera da entrada na OTAN ocorram motins públicos e uma divisão da Ucrânia em duas partes.
O que pense que aconteceria se a Ucrânia forçasse a frota russa do Mar Negro para fora de Sevastopol [porto ucraniano]?
Creio que desencadearia um conflito armado, dado que nos sentimos à vontade agora, mais ou menos.
Estamos prontos para continuar na Geórgia. Mas ao mesmo tempo, não acabamos na Geórgia. Está longe de ter acabado, a situação ali. Precisamos da cabeça de Saakashvili. Consideramo-lo um agressor e um autor de crimes de guerra.
Moralmente, penso que o nosso exército e os nossos líderes políticos estão completamente preparados para jogar duro, de sermos rígidos com o líder ucraniano uma vez que o consideramos como cúmplice de Saakashvili.
Tem falado do Irão como sendo uma alternativa ao poder estadunidense. Ainda vislumbra Teerão à mesma luz?
Creio que o Irão devia e podia ser um aliado da Rússia… Trabalhando com o Irão, comercializando armas e os recursos em potencial, baseando o transporte de recursos naturais tanto da Eurásia como do Irão, combinando os nossos esforços estratégicos, militares, económicos e energéticos – podíamos criar uma força de verdadeira influência em todo o Médio Oriente…
Temos interesses em comum com os iranianos… uma vez que considero que travar a unipolaridade estadunidense como sendo o mais importante, o mais absoluto… Estes partidos, os pró-Ocidente presentes no governo russo, insistiram que o Irão, sendo fundamentalista, podia em determinada altura agredir-nos. Mas… isso era uma espécie de propaganda contra os iranianos criada pelas forças pró-americanas e pró-Ocidente existentes em Moscovo.
A sua opinião acerca de Vladimir Putin tem sido flutuante.
Apreciei bastante os seus actos concretos para o reforçar da ordem política na Rússia, os seus passos para afastar os oligarcas, para diminuir a influência dos ocidentais e para salvaguardar a unidade territorial russa na situação da Chechénia.
Mas notei também que se encontrada cercado de pró-ocidentais, de políticos, conselheiros e especialistas pró-liberais… foi essa a principal razão do meu criticismo para com ele.
Mas penso que agora, após 8 de Agosto [intervenção militar russa na Geórgia] Putin e Medvedev ultrapassaram o ponto de retorno. Demonstraram que a vontade de decisão para transformar as palavras em actos são, de facto, irreversíveis. Portanto o meu apoio para com Putin e Medvedev é agora absoluto.
Fui enganado por certos círculos. Mas, ao mesmo tempo, penso também que o Ocidente foi enganado pelos mesmos círculos.
E pelo Medvedev, também! Uma vez que julguei que Medvedev era a vingança dos liberais, e protestei. Creio que Washington e Bruxelas também julgaram o mesmo e fomos todos enganados. Medvedev provou ser um patriota russo e um estadista genuíno. Admiro tamanho engano – mesmo tendo sido eu próprio o enganado.
Moscovo está a exagerar? Muitos analistas questionam se a Rússia tem o poderio militar bem como a estabilidade económica necessárias para arriscar o isolamento.
A Rússia não ficará isolada – nem da Europa nem da Ásia. Dos Estados Unidos, talvez, mas isso não nos importa.
In Los Angeles Times, 04 de Setembro de 2008

  
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